Reflexões


Reflexão de um Guerreiro



Bem sabe o guerreiro que cada movimento que fizer será único; cada passo dado deixará uma pegada; cada palavra proferida será como flecha lançada e, não há retorno.


Assim o verdadeiro guerreiro coloca seu medo fora de sua existência, porquê sabe que abaixo do Céu nada se repete.


Por isso, não teme que o infortúnio passado o paralise diante de uma nova decisão.


Pode haver semelhanças nos caminhos, mas não repetição. Se o caminho lhe parece familiar, veja se a vida não está lhe colocando a tua coragem a prova.


És um iniciado na arte e estratégia do combate, para a cada dia combater o "bom-combate".


Teu coração é capaz de sentir cada movimento do inimigo, e seu semblante faz com que seu inimigo perceba isso.


Por isso teus inimigos saem em retirada; porquê bem sabem que não há espaço no tempo que lhe permitam atacá-lo; sua gruada está levantada e não há exposição de pontos-vitais. Teu escudo é tua mente guerreiro; és o senhor de seus pensamentos.


Não há em ti nada que não seja seu; somente, aquilo que permitiu germinar e crescer.


Contigo, carrega para a batalha o que há em teu coração e mente; por esse motivo, só carrega o necessário.



Céu e Inferno


Um samurai corajoso e de temperamento violento foi a um mosteiro à procura de algumas respostas para suas inquietações. Lá foi recebido por um monge jovem e franzino.






Olhando o frágil corpo vestido com uma roupa cor ocre, o Samurai disse, prepotente:





- Quero saber sobre o céu e o inferno.





O monge olhou para o guerreiro e respondeu com enorme desprezo:





- Ensinar-lhe sobre o céu e o inferno? Como poderia ensinar alguma coisa? Olhe para você mesmo: imundo, malcheiroso. Você envergonha os samurais. Saia daqui! Não suporto a sua presença!





O samurai, atônito a princípio, foi tomado de fúria e tremia de ódio, com o rosto cor de púrpura e os lábios trêmulos. Tentava em vão balbuciar algumas palavras. Puxou a espada violentamente e preparou-se para cortar a cabeça do pequeno monge.





- O Inferno é isso - disse o monge fixando-o nos olhos docemente.





O samurai deteve a espada no ar assombrado. A dedicação ao serviço e a fraternidade compassiva do monge o levaram a arriscar a própria vida para que ele sentisse o inferno. O guerreiro sentiu o coração aquecido pelo sentimento de gratidão e companheirismo. Olhou para o monge, com a mente pacificada.




- Isso é o céu - disse o monge, com serenidade


Templo Kiyomizu em Kyoto